Não resistia à força do corpo que não despias, à força que me tornava minúsculo, sujeito à ortografia das avalanches. Soterrado à tua caligrafia. Sem espaço para dizer, eu isto, eu e isto, mais coisa menos coisa, entre amplexos de uma arritmia que falaria do lado ventrículo do meu coração. A boca fechada, isso, muito fechada para eu ser sinceramente cru e raso, como quando o teu beijo - um dilúvio da estranheza fluvial que surgia no ambulatório dos lábios - era desprevenidamente o aqueduto das coisas. E a tua força a desatar botões, os fechos cerrados da tua roupa a querer rasgar a pele que eu, eu e mil a mais em redor do teu desejo, sofríamos com uma multidão viva encostada ao pescoço. E as tuas mãos a sofrer na jugular interdita dos acasos, que não podias vir do acaso como quem estaria ausente, porque tu não detinhas a força acumulada das barragens - no trânsito dos dias. E quanto mais, quanto mais cosias as costuras por cima dos poemas, mais eu sangrava, com muito sangue pelas avenidas dos silêncios póstumos - das palavras escritas.
segunda-feira, novembro 27, 2006
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13 comentários:
E eu sei que já estou à mercê...
a explosão das palavras!
e fica um rasto, helena, que esperei visível...
ufffff
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absolutamente brilhante!
(que raiva)...sorrio.
que prazer:boa noite!
adorei! :)
Onde ficou o espaço para nós?
De que espuma é feita esta onda?
Parece-me rio, sem ser foz
Parece-me amor, mesmo que se esconda...
Onde ficou o verso, a ternura? A monte?
De que parte de mim esta fogueira?
Parece-me mar, sem ser horizonte
Parece-me eu, mesmo que não queira...
passo a passo.
um rasgão de luz...
abraço!
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olha, é assim que me sinto: muita sangue e muita chuva sob os silêncios
:) (lindo !)
brutal...
Por vezes as mesmas palavras ganham
outras frases que nos dás de forma
tua, num olhar próprio.
Só posso dizer que gostei particularmente deste texto. Abraço
Belíssimo. A imagem recolhidissima em si...mas, do mesmo modo, oferecendo-se a meus olhos - leitor.
HMM
Isto também poderia ser uma carta de amor. De despedida?
Inês
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