segunda-feira, novembro 27, 2006

Não resistia à força do corpo que não despias, à força que me tornava minúsculo, sujeito à ortografia das avalanches. Soterrado à tua caligrafia. Sem espaço para dizer, eu isto, eu e isto, mais coisa menos coisa, entre amplexos de uma arritmia que falaria do lado ventrículo do meu coração. A boca fechada, isso, muito fechada para eu ser sinceramente cru e raso, como quando o teu beijo - um dilúvio da estranheza fluvial que surgia no ambulatório dos lábios - era desprevenidamente o aqueduto das coisas. E a tua força a desatar botões, os fechos cerrados da tua roupa a querer rasgar a pele que eu, eu e mil a mais em redor do teu desejo, sofríamos com uma multidão viva encostada ao pescoço. E as tuas mãos a sofrer na jugular interdita dos acasos, que não podias vir do acaso como quem estaria ausente, porque tu não detinhas a força acumulada das barragens - no trânsito dos dias. E quanto mais, quanto mais cosias as costuras por cima dos poemas, mais eu sangrava, com muito sangue pelas avenidas dos silêncios póstumos - das palavras escritas.

13 comentários:

Anónimo disse...

E eu sei que já estou à mercê...

Anónimo disse...

a explosão das palavras!

nuno disse...

e fica um rasto, helena, que esperei visível...

isabel mendes ferreira disse...

ufffff
____________

absolutamente brilhante!


(que raiva)...sorrio.


que prazer:boa noite!

Tita disse...

adorei! :)

Anónimo disse...

Onde ficou o espaço para nós?
De que espuma é feita esta onda?
Parece-me rio, sem ser foz
Parece-me amor, mesmo que se esconda...

Onde ficou o verso, a ternura? A monte?
De que parte de mim esta fogueira?
Parece-me mar, sem ser horizonte
Parece-me eu, mesmo que não queira...

Bandida disse...

passo a passo.


um rasgão de luz...






abraço!
_____________________

firmina12 disse...

olha, é assim que me sinto: muita sangue e muita chuva sob os silêncios

Insignificante disse...

:) (lindo !)

Anónimo disse...

brutal...

Quarto do Tempo disse...

Por vezes as mesmas palavras ganham
outras frases que nos dás de forma
tua, num olhar próprio.
Só posso dizer que gostei particularmente deste texto. Abraço

Anónimo disse...

Belíssimo. A imagem recolhidissima em si...mas, do mesmo modo, oferecendo-se a meus olhos - leitor.

HMM

Anónimo disse...

Isto também poderia ser uma carta de amor. De despedida?
Inês