domingo, agosto 06, 2006

a nossa violência era tão sólida,
perto do coração,

repetíamo-nos nas mãos,
os braços esquartejavam o silêncio
e arremessávamos as sombras até que todo
o sangue fosse uniforme
e a dor só uma...

o nosso amor matava,

era uma ferida na roupa
e mentíamos com frio,

recuávamos no terror que nos trazia próximos,
a luz era cega
e fazíamos um cásulo de noites cada vez mais tristes.


a intimidade do nosso colo era cada vez mais frágil.

a nossa violência era um acto de repúdio
por sermos tão possíveis.

por não acontecermos.

5 comentários:

Miss Marble disse...

gosto mesmo muito disto!

Anónimo disse...

isto, e esta violência, foi sempre um acto de redenção...

Anónimo disse...

Desarmante. Muito, muito bonito. Fabricador de silêncios. Parece que se fica à beira de um sagrado qualquer, tão terreno.

hfm disse...

Intensamente belo!

kelly disse...

dolorosamente certeiro