terça-feira, abril 25, 2006

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"Parece que existe no cérebro uma zona específica, a que poderíamos chamar de memória poética, que regista o que nos encantou, o que nos comoveu, o que dá beleza à nossa vida. Desde que Tomás conhecera Teresa, nenhuma outra mulher tinha o direito de deixar a sua marca, por efémera que fosse, nessa zona do cérebro. Teresa ocupara como déspota a sua memória poética e dela varrera todas as outras mulheres. Não era justo porque, por exemplo, a rapariga com quem fizera amor no tapete durante a tempestade não era menos digna de poesia do que Teresa. (...) Em outras palavras, ela batia nas grades da sua memória poética. Mas as grades estavam fechadas. Não havia lugar para ela na memória poética de Tomás.
Só havia lugar para ela no tapete."


Milan Kundera (A Insustentável Leveza do Ser)

3 comentários:

Anónimo disse...

Há muitas pessoas que têm grades na memória poética e escondem a chave em um lugar que fingem não se lembrar impedindo-se a elas mesmas de alargar os seus horizontes.
Eu amo a poesia e por isso tenho a porta sempre aberta e a chave esqueci-me mesmo dela.

nuno disse...

também eu, por vezes, me recordo que a esqueço constantemente... embora, em alguns casos, a devessemos usar com a frequência de um refúgio...

Anónimo disse...

Alguém ocupar a memória poética de outro alguém...basicamente é a razão para se estar vivo. :)